Vez ou outra no consultório alguém me faz essa pergunta: “Doutor, vi um vídeo na internet que alguém falava que algumas pessoas precisam tomar um remédio para evitar trombose venosa em viagens de avião; o senhor poderia prescrever para mim?” ou então “Eu tenho varizes, preciso tomar uma injeção para evitar trombose durante um voo para outro país?”

Essas perguntas são justificáveis pelo fato de que o assunto trombose venosa e viagens aéreas é bem popular. No entanto, há muita desinformação em relação a esse assunto.

Fique comigo e até o fim desse episódio você terá informação mais fundamentada sobre esse assunto.

Eu sou o Dr. Robson Barbosa de Miranda e esse é o Fluxo Vascular, sua fonte de informação médica de qualidade e fácil compreensão. Toda semana um episódio com temas abordando as perguntas mais comuns no consultório médico vascular.

Bem-vindos de volta ao podcast Fluxo Vascular! No episódio de hoje, vamos abordar um tema importante para quem está planejando uma viagem de avião: o tromboembolismo venoso e sua relação com voos mais longos. Uma observação: o termo tromboembolismo venoso inclui duas entidades clínicas intimamente relacionadas: a trombose venosa e a embolia pulmonar.  Vamos fornecer informações práticas sobre os riscos, as estatísticas e os cuidados que podem ser tomados para evitar a trombose relacionada a viagens aéreas.

A questão sobre a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar durante e após viagens aéreas é frequentemente discutida, especialmente em períodos de férias, quando o número de viagens de avião aumenta. E hoje vamos responder às principais dúvidas relacionadas a esse assunto:

– Qual é a frequência da trombose venosa profunda durante viagens aéreas?

– Existem pessoas com maior risco de desenvolver tromboembolismo venoso durante o voo?

– Viagens mais longas aumentam o risco de tromboembolismo venoso (trombose venosa profunda e/ou embolia pulmonar)?

Quando buscamos a melhor resposta com base em estudos clínicos, encontramos as revisões sistemáticas, que avaliam os resultados de diversos estudos em uma única análise, aumentando a precisão dos resultados obtidos e a eficácia dos dados. As informações que apresentaremos a seguir são baseadas em alguns desses estudos que você pode encontrar no nosso site: www.fluxovascular.com.br

Na realidade, a trombose venosa profunda e a embolia pulmonar após viagens de avião são eventos pouco frequentes. Em um estudo que acompanhou 8.755 trabalhadores de companhias aéreas por 8 semanas com o objetivo de avaliar a taxa de tromboembolismo venoso, foi calculado que essas pessoas realizaram o equivalente a 102.429 horas de voo de longa distância, e somente 22 casos de tromboembolismo venoso foram diagnosticados nesses trabalhadores. Isso significa que houve uma trombose venosa profunda ou embolia pulmonar a cada 4.656 horas de voo de longa distância. Ou seja, 1 caso de tromboembolismo venoso a cada 465 viagens de São Paulo a Nova York, por exemplo.

Um outro estudo encontrou uma incidência de 0,5 casos de embolia pulmonar a cada 1.000.000 de viajantes no dia da chegada do voo e 27 casos de trombose venosa profunda ou embolia pulmonar após 2 semanas da chegada do voo.

Apesar da baixa taxa de incidência de tromboembolismo pulmonar após viagens aéreas, observou-se um aumento do risco à medida que o tempo de voo aumenta, especialmente em voos com mais de 8 horas de duração. Além disso, outros fatores, como distúrbios de coagulação, obesidade grave, mobilidade limitada, câncer e varizes de grosso calibre, podem aumentar o risco de trombose venosa profunda e embolia pulmonar após viagens aéreas.

Em resumo, a ocorrência de tromboembolismo venoso após viagens aéreas não é comum, principalmente quando analisamos de forma relativa, proporcional (tantos casos por x horas de voo, ou tantos casos a cada milhão de passageiros). No entanto, devido à crescente mobilidade aérea, o número absoluto tende a aumentar, o que pode proporcionar a sensação de que é mais comum do que os dados científicos nos informam.

Vamos agora falar sobre as medidas de prevenção da trombose em voos. Um artigo intitulado “Profilaxia do tromboembolismo venoso em viagens aéreas” discute a prevenção do tromboembolismo venoso durante as viagens de avião.

O tromboembolismo venoso é uma das complicações mais temidas dos voos, mas a real incidência é difícil de mensurar fora dos estudos clínicos. Questões polêmicas como, por exemplo, quanto tempo após o pouso podemos considerar que o tromboembolismo esteja relacionado à viagem aérea realizada? Ou, quanto tempo de voo é considerado de longa duração?

A Cochrane Library é um instituto que, através de seus pesquisadores, compila estudos para extrair a melhor informação científica médica disponível. Em uma revisão recente, alguns pesquisadores desse instituto avaliaram 11 estudos randomizados com um total de 2.906 passageiros em voos com mais de cinco horas de duração. Desse universo de passageiros, 1.273 eram considerados de alto risco para tromboembolismo venoso. O estudo analisou o uso de medidas mecânicas de prevenção de trombose em ambas as pernas, com o uso dessas medidas em uma das pernas e com nenhuma medida mecânica de prevenção. Chamamos de medidas de prevenção mecânica o uso, por exemplo, de meias elásticas de compressão graduada.

No entanto, essa análise da revisão dessas publicações não permitiu chegar a um consenso claro sobre quais passageiros devem adotar medidas preventivas mecânicas para evitar o desenvolvimento de trombose venosa durante voos de longa duração. Além disso, não há uma definição clara de quanto tempo de voo é considerado longa duração nem qual é o melhor método de prevenção.

Por isso, é importante que cada passageiro seja avaliado individualmente, levando em consideração seus próprios riscos e benefícios, a fim de decidir quais medidas tomar para prevenir a trombose venosa em voos longos.

Aqui estão algumas medidas gerais que podem ajudar a reduzir o risco de tromboembolismo venoso após voos:

  1. Use meias elásticas de compressão graduada durante o voo.
  2. Evite ficar sentado imóvel por muito tempo na poltrona. Levante-se de vez em quando e caminhe pelo corredor. Aproveite as idas ao banheiro para exercitar as pernas.
  3. Enquanto estiver sentado, faça movimentos de flexão plantar (forçando o pé para baixo) ou flexão dorsal (forçando o pé para cima) de tempos em tempos.
  4. Mantenha-se hidratado durante o voo.
  5. Evite consumir bebidas alcoólicas durante o voo, pois podem levar à desidratação, aumentando a viscosidade do sangue, que é uma das causas da trombose.
  6. Se você já teve trombose venosa, embolia pulmonar ou tem uma trombofilia conhecida, procure orientação médica específica para uma prevenção mais específica e adequada.

Para obter mais informações sobre a prevenção de tromboembolismo venoso em geral, você pode acessar a campanha mundial contra a trombose.

Desejamos a você uma boa viagem! Cuide-se e esteja atento aos cuidados necessários para garantir a saúde vascular durante suas viagens de avião.

Espero que este episódio sobre tromboembolismo venoso e viagens aéreas tenha sido útil e esclarecedor para você. Se você tiver alguma dúvida ou quiser saber mais sobre algum tópico específico, por favor, envie-nos um e-mail para podcast@fluxovascular.com.br. Estamos aqui para ajudar a esclarecer e desmistificar as doenças vasculares.

  • Você encontra conteúdo extra desse episódio e as referências bibliográficas que embasaram cientificamente esse roteiro no website do podcast: www.fluxovascular.com.br.
  • Não deixe de assinar e dar 5 estrelas no podcast e compartilhar com amigos e parentes. As informações que aqui se encontram podem ser úteis.
  • Se for de seu gosto, deixe seu comentário ou faça uma pergunta por aqui mesmo, abaixo da descrição do episódio.
  • Você pode ouvir nosso programa no Spotify, Google Podcast, Amazon music, Deezer e outros tocadores.
  • Você também pode nos seguir no instagram @fluxoclinica e youtube canal @robsonmiranda.

O Fluxo Vascular é produzido, dirigido e editado por mim, Robson Barbosa de Miranda.

Muito obrigado pela sua atenção e até a próxima semana.

Referências usadas nesse episódio:

  1. Kuipers S, Cannegieter SC, Middeldorp S, et al. The absolute risk of venous thrombosis after air travel: a cohort study of 8,755 employees of international organisations. PLoS Med. 2007;4:e290.
  2. Philbrick JT, Shumate R, Siadaty MS, et al. Air travel and venous thromboembolism: a systematic review. J Gen Intern Med. 2007;22:107-114.
  3. Chandra D, Parisini E, Mozaffarian D. Meta-analysis: travel and risk for venous thromboembolism. Ann Intern Med. 2009;151:180-190.
  4. Belcaro G, Geroulakos G, Nicolaides AN, et al. Venous thromboembolism from air travel: the LONFLIT study. Angiology. 2001;52:369-374.
  5. Marques, M. A., Panico, M. D. B., Porto, C. L. L., Milhomens, A. L. de M., & Vieira, J. de M.. (2018). Profilaxia do tromboembolismo venoso em viagens aéreas. Jornal Vascular Brasileiro, 17(J. vasc. bras., 2018 17(3)), 215–219. https://doi.org/10.1590/1677-5449.010817
Categories: Blog

0 Comments

Leave a Reply

Avatar placeholder

Your email address will not be published. Required fields are marked *